As melhores são as que surgem de repente e nos fazem sorrir; estas são também as que mais depressa desaparecem.
A decisão de criar este blog surge da vontade, sempre adiada, de escrever aquilo de que me vou lembrando e aquilo que me vai acontecendo; não porque as minhas memórias sejam importantes para outros ou mereçam ser lidas, mas porque são muito importantes para mim.
A melhor coisa que podemos ter na vida são boas recordações e nós, que as temos, devemos dar graças a Deus todos os dias por isso; há quem não tenha essa sorte!
E as boas recordações são o combustivel para os dias difíceis, para os momentos menos bons e mesmo para os muito maus, que também os há
São 4 da tarde de um Domingo chuvoso de Outubro; cheira a terra e madeira húmida e está tudo com tons de cinzento.
Estou sentada ao computador a ouvir o Rádio Clube Português (que recomendo) e, de repente, começam a dar a música do José Cid "No dia em que o rei fez anos ..." (não sei se este é o nome, mas é assim que a conheço).
Subitamente, aparece-me uma imagem que, de tão agradável, me aquece a alma: estou em Cete, com a Beji e o Miguel, no quarto onde dormiamos e brincávamos (no corredor de cima era uma porta que ficava a meio) a ouvir o single num gira-discos pequeno que eles tinham e a cantar.
Era Verão, de manhã, estava sol e calor lá fora, e este entrava pela janela; a luz era quebrada por uma árvore (um cedro?) grande que existia em baixo, em frente à sala de estar (onde um dia fiquei de castigo, sentada numa cadeira, porque chamei "burra" à Bu).
O calor, a despreocupação, que era tão boa nessa idade e da qual sobra a recordação, a felicidade ... naquele Verão ... tantas recordações.
domingo, 24 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Queridos Amigos
Queridos Amigos:
Ontem estive a ver o filme Julie & Júlia em que Júlia faz um blog sobre Julie e em que cozinha tudo e mais qualquer coisa (é mais ou menos isto); o que interessa é o facto desse blog ter ajudado imensa gente a perceber que a cozinha não é para todos (minha opinião) e de ter dado um sentido à vida da protagonista (parece que também lhe rendeu uns contratos com editoras e algum sustento).
E o que é que isto interessa, pensam os que ainda aí estão?
Eu também quero fazer um blog, ou qualquer coisa do género, em que eu e os meus amigos possamos ajudar pouca gente (o número não conta para nada), sobretudo nós e os nossos vindouros para que aprendam a não repetir os mesmos erros que nós
Ui que seca!!!! Pensam mas não dizem porque são meus amigos.
Eu passo a explicar: não é nada do género “A Voz da Experiência” já que não há nada mais chato, não é nada do género “Dale Carnegie – Como ser promovido e amado pelo chefe” já que não há nada mais bronco, não é nada do género “5 Dicas para se tornar uma bomba” já que não há nada menos interessante, mas sim situações pouco frequentes, muitas irrepetíveis, das quais tiramos ensinamentos preciosos (para mim são) a deixar aos amigos
A propósito … escusam de mandar aqueles comentários antipáticos: não ensinam nada a ninguém, a não ser o facto de existirem melgas muito melgas que nunca aprenderam que “Se não tens nada agradável para dizer o melhor é estares calado” (aviso: não é Confúcio)
Não pretendo também dar um sentido à vida já que acho que vou morrer sem saber qual é (eu e a maior parte do povo)!; e, por fim, não pretendo ser a Margarida Rebello Pinto e armar-me em escritora nem a Sofia de Mello Breyner, por isso escusam de tentar corrigir erros, vírgulas e frases … para os/as Edites, um dito: “Vão-se encher de moscas|”
Passemos ao que interessa, ou como diz o filme “la piéce de résistance”
Experiência número 1
Classificação – Traumática física e psicologicamente.
Descrição – Caminho Português de Santiago de Compostela no troço Ponte de Lima/Valença
A quem não se destinam as conclusões a que cheguei – todas as amigas e amigos super em forma que são o nosso orgulho e inveja e que a uma boa tainada preferem uma caminhada
Hoje, dia 4 de Setembro, fui acordada pelo despertador às 6:30, após 5 horas e meia de sono, porque tive um jantar em casa e, no final, tive que assumir o meu outro eu “Clotilde Empregada”; remelosa, equipei-me (mal como veremos mais adiante) e parti com o meu pobre filho Nicolau para um meeting de grupo no Largo da Matriz de Ponte de Lima; hora de meeting: 7:30 (e rápida partida já que fazer sala aquela hora da manhã é coisa que não lembra!).
Decidi partir com o meu filho Nico quando, às 8:15, percebi que o grupo só iria sair bastante mais tarde (parece que arrancaram às 9:00); devem começar a pensar que estou velha e chata com as horas: certo já que estou pra velha e as horas, que vão começar a escassear, são minhas, favas!
Mas o motivo maior da tomada de decisão era o facto de estar a raiar um lindo dia de sol, com céu limpo e temperaturas previstas acima dos 30º, logo mandava o senso, que nem precisa de ser muito bom, começar a caminhar o mais cedo possível.
Em vez de se subir a escarpa da Labruja, mais ou menos 15 km a pique, às 11:30 ou 12:00, poder-se-ia fazer a mesma subida duas horas antes com menos 4º seguramente.
A etapa prevista para o grupo, e para nós os dois era de 38km, dizem uns, porque eu estou convencida que foram mais já que percebi, ao longo do dia, que o sistema métrico usado era “Me mente que eu gosto”: 100 metros correspondiam à carreira da Breia que tem, bem medidos, 370m.
Para um só dia é bom para a Vanessa ou a nossa Rosinha: para uma comum e flácida Clotilde e um Nicolau fã dos desportos audiovisuais, foi a morte.
No momento em que escrevo este relato, que gostaria que um dia viesse a ser útil a alguém, estou sentada na cama (são 21:15) com duas linhas azuis enfiadas em duas bolhas gémeas que adquiri em cada um dos meus pés, uma camada gigantesca de Halibut por cima (isto porque não tinha nada mais gordo para colocar nas meias solas de couro em que se transformaram as bases), uma dor indescritível que teima em subir pelas pernas até ao pão, que sofre igualmente de uma coisa que rima com esteroidas (desculpem mas não me lembro de mais nada para a rima) e que depois desce até umas articulações, a que se convencionou chamar joelhos, que se recusam a articular.
Resumindo: a experiência paralisou-me; só os dedos das mãos é que mexem … e as pálpebras.
Ilações a tirar para usos futuros
Erro 1 – quando marcarem o horário de um meeting de grupo, sobretudo a horas pouco próprias, certifique-se de qual a actividade que está prevista para essa hora. Se for: 7:30 – deambulação e convívio à porta da igreja (duração mínima 1 hora), das 2, 3:
1º ou os manda “encher de moscas” (gosto muito desta expressão idiomática)
2º ou vai mas leva o bule, as torradinhas e os scones e faz um chá das tias
3º ou estabelece o seu horário (esta é a que eu prefiro)
Erro 2 – quando lhe propuserem caminhadas/peregrinações em grupo, certifique-se primeiro que tipo de elementos compõe o grupo
Se for: atletas, frequentadores entusiastas de ginásios ou a gémea da Vanessa Fernandes, das 2,3:
1º ou opta por fazer o percurso pedestre numa moto TT
2º na primeira oportunidade atira-se para o chão e pede que chamem o INEM (com sorte aparece-lhe um paramédico giro e ainda pode desmaiar com o fito da reanimação)
3º forma o seu grupo (esta é a que eu prefiro); assim evitam-se também os traumas psicológicos provocados por uma ultrapassagem em excesso de velocidade de uma avózinha na casa dos 70 ao capuchinho que mal podia com a cesta, quanto mais fazer corridas com o lobo mau (a propósito: o Nico tinha pensado que uma peregrinação religiosa deste tipo era uma boa proposta a fazer à sogra com vista ao seu despacho; com o exemplo do “Speedy Gonzales over 70’s”, que fazia parte do grupo, desistiu).
Erro 3 – quando lhe propuserem subir uma serra, arranje uma carta militar e verifique as curvas de nível
Se for: serra tipo K qualquer coisa, Andes, Himalaias ou … Labruja, das 2,3:
1º fala primeiro com o João qualquer coisa, aquele que não meteu o nariz onde devia e lixou-se, e pede aconselhamento
2º ata-se a um foguete e faz pontaria ao topo
3º salta essa parte do programinha e decide-se pelas etapas planas (esta é a que eu prefiro). É, e o carimbo no passaporte do peregrino (a propósito, vi um e ia-lhe pegar a pensar que era uma pagela daquelas que nos dão na festa da freguesia)? Ora, ora, se se falsificam assinaturas, notas, diplomas universitários, não conseguimos copiar um carimbo … vai à Stapples!
Erro 4 – quando lhe propuserem uma etapa de 38km, em montanha russa, Todo o Terreno (e não é que é mesmo: ele é asfalto, gravilha, terra, seixos (foi o que mais gostei, parecia a praia do Homem do Leme em ladeira escarpada), certifique-se que o proponente não é o Stallone, não é o seu confessor depois de lhe ouvir as faltas, ou alguém que acabou de tomar qualquer substância com cheiros exóticos ou fumado qualquer planta do seu jardim
Se tiver dúvidas em aceitar ou não a proposta, por dificuldade em classificar o proponente, das 2, 3:
1º coma um cocktail de camarões que estagiou ao sol por 24 horas ou algo que a ASAE apreendesse se apanhasse e, pode ter a certeza, ao fim de uma temporada contínua na sala do trono que tem em sua casa, sentir-se-á um verdadeiro peregrino da etapa Ponte de Lima-Labruja-Valença.
2º atire-se do 3º andar do seu prédio (para quem não viva em prédios um plátano centenário ou uma palmeira do Passeio Alegre) e caia como as árvores, que dizem que morrem de pé; pronto, aí tem o peregrino
3º fique em casa, reze a Deus pelos peregrinos da dita etapa, seja solidário e dê-lhes dinheiro para o bilhete da carreira Ponte de Lima-Valença (esta é a que eu prefiro)
Conselhos para evitar os erros comprovados (oh..oh):
1º sapatos de sola dura e um número acima; assim escusa de contar todos os seixos e pedrinhas do caminho (pra cima da dívida pública portuguesa) e encaracolar as unhas sempre que bate num calhau para acabar com linhas azuis nos pés
2º um cajado, pau, tronco do pinheiro de Natal que entretanto secou, cabo de vassoura sem as piaçabas, qualquer coisa a que se agarrar para não terminar o dia a trocar as pernas ao andar, o que dá um aspecto pouco santo
3º vaselina para os pés ou qualquer creme gordo, bacia e sal grosso com uma termos com água morna, massajador a pilhas, sei lá eu, todos os miminhos que possam prestar às bases, se não querem passar o dia a chamar-lhes nomes feios entre-dentes, que garanto não resolve
E sobretudo EVITAR REALIZAR ESTE TROÇO NUM SÓ DIA
Há, já me esquecia: a paisagem era deslumbrante, depois um pouquinho menos, e para o fim, deslumbrante só mesmo as cadeiras de plástico das esplanadas dos botecos; qualquer paisagem deslumbrante ao meio-dia sob um sol escaldante perde o podium para uma cadeira e uma cervejola.
Se querem ver paisagens deslumbrantes, sigam o meu conselho: comprem os vídeos da National Geographic, fechem as luzes e imaginem que estão in loco.
Termino agora porque vou iniciar uma via dolorosa até à copa para comer algo que me permita tomar um Brufen 600 e 2 Aspirinas sem dar mais cabo do canastro, que está em estado semelhante “ao que há d’ir”
Vou tentar ir em pino.
Fim de experiência
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