segunda-feira, 6 de junho de 2011

Pritzker ou a história de uma obra

Pois é: Pritzker. O prémio Nobel da arquitectura.
Acordei com a notícia que o arquitecto Souto Moura (é assim?) recebeu de Barac Obama (e assim?) o Pritzker, com especial referência ao Estádio AXA (vulgo do Braga).
Estando neste momento a pagar uma obra de reconstrução de uma mísera ruína, antiga casa de rendeiros, planeada por uma colega do Nobel, ocorreu-me o seguinte pensamente:
Qual o mérito de um prémio recebido por uma obra feita com o dinheiro de outros? E mais? Qual o valor de dar asas à imaginação quando não existem limites orçamentais? Se o arquitecto tivesse que realizar o mesmo estádio com metade do orçamento, o que teria feito? E todas as outras obras? Será que teria recebido o prémio na mesma?
Não pensem que fico descontente com o prémio recebido ou tenha qualquer critica a fazer ao premiado! Muito pelo contrário. Parabéns Sr. Arquitecto!
O que me intriga é esta capacidade de brilhar à custa do dinheiro dos outros. Se o dinheiro fosse seu, as soluções seriam as mesmas?
Agora que penso no caso, não posso deixar de descer á terra e olhar, com olhos de quem tem de pagar a conta das obras planeadas pela arquitecta.
Ups! Não foi bem isto que se pensou.
No início era o verbo, no sentido de palavra falada: "Estejam descansados! Vai-se fazer tudo e ainda sobra. O orçamento foi empolado a pensar nos precalços"
E depois fez-se:
No primeiro dia limpou-se, escavou-se (mais do que estava previsto ... erro no golpe de vista) e começou a surgir a obra; o dia caiu e tudo estava muito bem.
No segundo dia surgem as colunas para suporte da cobertura: pedra e madeira; o dia caiu e algumas coisas já não estavam tão bem.
No terceiro dia o telhado isolado como mandam as normas comunitárias, criadas pelos países nórdicos e adaptadas a um clima em tudo idêntico (pra quando a neve no Natal?) coberto por telhas antigas, velhinhas mas lindíssimas e eficientes; o dia caiu e tudo estava melhor.
No quarto dia as madeiras de tectos, roda tectos, roda pé e ... de tanto rodar, quando acabaram de assentar no chão, o carrossel já não ia ter parança; corta aqui, arrebica ali, grossura que é para não entortar (ou jogar como dizem os técnicos e têm razão pois isto das madeiras é como a roleta), pormenor antigo, pormenor contrastante; o dia caiu e já não sabíamos bem como é que estávamos.
No quinto dia os arrebiques onde se misturam técnicas antigas, óleos e emassados, com ferros, pladur ou placot (tenho a certeza que não é assim?), portas embutidas deslizantes, azulejos de arquitecto (são os pequeninos que é para ver a obra crescer lentamente), janelas de vidrinhos também pequeninos (pra mais tarde limpar) e uma piscina que surge onde o homem (neste caso eu) quis e como quis; o dia caiu e começávamos a vislumbrar ... a queda ... na piscina
No sexto dia os pintores entraram, os movimentos cromáticos explodem, os pinceis a utilizar iam desde o rolo e trincha ao pincel de maquilhar; o dia caiu e o quadro estava quase pronto ... que pincel!
Ao sétimo dia o homem olhou, olhou, e percebeu ... tinha um Monet pendurado na árvore do paraíso, estava nu. Correu a esconder-se quando ouviu uma voz vinda de uma caixa: "Lamentamos, mas o saldo da sua conta não lhe permite realizar qualquer operação"
O arquitecto recebe o Pritzker! O homem recebe uma ordem: Vai, trabalha, trabalha, trabalha, cresce, cresce, cresce, multiplica, multiplica, multiplica, paga, paga, paga e depois ... tenta o económico da Servilusa.

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